O prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), criticou a falta de investimentos dos governos estadual e federal na cidade nos últimos 20 anos, uma das cidades que mais contribuíram para a arrecadação estadual. Lage afirma que o município está atuando para diversificar a economia e reduzir a dependência da mineração, hoje responsável por 85% da arrecadação. Lage se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), no dia 19, onde apresentou as demandas do município e reforçou a importância do apoio político. Confira mais na entrevista abaixo.
Itabira é uma cidade dependente historicamente da mineração. E boa parte da arrecadação do Estado veio do município ao longo das décadas. Como o senhor avalia os investimentos dos governos na cidade para minimizar os impactos causados pela atividade minerária?
Não houve nenhum projeto estadual ou federal nos últimos 20 anos em Itabira. Os últimos investimentos de governos em Itabira foram na primeira parte dos anos 2000, há quase 20 anos, com a vinda do campus da Unifei para a cidade e a rodovia que dá acesso a Nova Era. Depois disso, não recebemos mais investimentos. E isso em uma cidade que contribui, há 80 anos, para a arrecadação do Estado. Já foram tiradas 2,5 bilhões de toneladas de minério, e de alta qualidade daqui, mas a cidade seguiu esquecida. Precisamos mudar essa visão. Espero que no acordo de Mariana, as cidades mineradoras sejam melhor contempladas, porque o bônus da mineração vai para todo o Estado, mas o ônus fica no município. O impacto é grande demais, tanto ambiental e social, com pobreza, falta de água, poluição… E o tratamento que a cidade vem recebendo não condiz com a importância de Itabira. Seja no governo estadual seja no federal, não temos recebido nada. Não se respeita a história da cidade.
E quais investimentos deveriam ser feitos pelos governos?
Precisamos de estrutura, de projetos que atraiam investimentos. Nossa luta hoje é pela duplicação da MG 129, que liga Itabira à BR-381. A nossa proposta é que a rodovia seja duplicada e que haja terceira pista na outra parte da MG-434. São estradas já desgastadas e que têm atraído o trânsito de quem quer desviar das serras da BR-381. Melhorando essa infraestrutura, possibilitamos que Itabira entre como um arco importante de aproximação com a região metropolitana. Por isso, cobramos dos governos estadual e federal investimentos para que possamos diversificar a economia. Passamos décadas achando que o minério não vai acabar. Hoje, 85% da arrecadação do município é da mineração, direta e indiretamente. Estamos lutando contra essa dependência para que possamos criar um ciclo de desenvolvimento mais sustentável. Mas precisamos de estrutura, precisamos de governos estadual e federal que reconheçam a importância do município e façam os investimentos que precisam ser realizados.
Mas o município tem projetos para buscar essa diversificação e atrair os interessados em investir?
Estamos desenvolvendo 32 projetos para buscar essa diversificação. Além de garantir infraestrutura melhor à cidade, com a duplicação das rodovias, estamos com uma consultoria internacional, feita em parceria com a Vale, para explorar outras fontes econômicas. Por exemplo, tornar Itabira um macro pólo de saúde é importante. Poderíamos ser referência para quase 1 milhão de habitantes que hoje precisam ir até Belo Horizonte, que está estrangulada, ao criar um pólo de atendimento para que se possa atender melhor a população. Temos aqui o campus da Unifei, várias faculdades particulares, tem o Sesi. Há também tratativas para implantação do curso de medicina na cidade. Isso atrai investimentos, de serviços médicos-hospitalares, cria o turismo médico, gera receita e emprego. A cidade tem potencial para receber de 15 a 20 mil universitários. Se tornar um pólo tecnológico a partir da Unifei, criando um parque científico. Estamos tentando trabalhar para além da mineração.
Quais outras áreas podem ser exploradas para buscar essa diversificação? Há projetos em desenvolvimento?
O turismo é outra frente para a qual estamos desenvolvendo projetos. Há uma zona rural muito bonita, com cânions, por exemplo, e o turismo ecológico precisa ser incrementado. O turismo religioso é outra vertente. Itabira tem mais de 300 anos de história, é o berço do escritor Carlos Drummond de Andrade. Temos o agro também. São mil quilômetros quadrados de região rural, mas que representa só 1% da arrecadação. Podemos desenvolver a agricultura familiar, com produção de alimentos para região e para o Estado, buscando tornar um pólo produtor. Ainda nisso, temos a eficiência de logística da ferrovia Vitória-Minas, para escoar a produção. E, claro, precisamos criar essa aorta rodoviária até Belo Horizonte. Assim, podemos ampliar os projetos sociais e promover um futuro mais sustentável e diversificado economicamente.
O senhor esteve com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que estava exercendo interinamente a Presidência da República na ocasião, no dia 19. Chegou a levar esses assuntos para ele?
Sim. Estamos buscando ampliar o relacionamento político, seja no nível estadual ou no federal. Temos enfrentado grandes dificuldades no tratamento que a cidade vem recebendo ao longo dos anos. Um desses pontos é a questão da compensação para cidades mineradoras. A minha crítica mais recente ao governo do Estado é que ele não priorizou as cidades mineradoras no repasse aos municípios do acordo de Brumadinho. Itabira recebeu R$ 7 milhões. O critério que foi considerado foi o populacional, mas isso não é justo. Espero que no acordo de Mariana isso possa acontecer. Repito: o ônus da mineração fica nas cidades mineradoras. Então, esse encontro com o presidente Pacheco foi emblemático porque significou que temas importantes sobre Itabira foram para a mesa do presidente da República em exercício. E espero que daqui para frente, com o próximo presidente, possamos continuar.
A Vale foi criada em iniciou as atividades em Itabira. Como é a parceria da empresa com o município? É a ideal?
Não é a ideal. A Vale errou muito nessa parceria com as cidades, nesse modelo de relacionamento, ao longo da história, pois ficou parecendo algo de quase favor, uma contribuição que a empresa fazia com pequenas compensações. Estamos mudando isso para uma visão estratégica a curto, médio e longo prazos. Essa consultoria em que estamos desenvolvendo os projetos para diversificar a economia tem parceria com a Vale, para mudar essa visão. Esse modelo de compensação precisa mudar. Às vezes, tem-se a visão de que os prefeitos só pedem dinheiro para aplicar nas políticas específicas. Mas é questão de planejamento, construir as coisas com esse dinheiro a quatro mãos, promover um projeto de sustentabilidade para o município. É isso que estamos tentando mudar. A mineração vai continuar, até por causa do próprio beneficiamento do minério. Mas é preciso ir além. A cidade não pode ficar tão sujeita ao esvaziamento e empobrecimento que se tornaram realidade em outras cidades mineradoras que não tiveram apoio político para diversificarem o modelo econômico.
Itabira vai completar no próximo mês 174 anos de emancipação, além de 120 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade…
É uma grande comemoração. Apesar de ter mais de 300 anos de história, são 174 de emancipação. É importante resgatar o orgulho do itabirano, que tem um certo histórico de desesperanças por causa do tema mineração, das barragens, dos impactos sociais, pobreza. Precisamos dar uma virada nisso. E estamos engajando a população nesses novos projetos para mexer com o nosso orgulho. E comemorar Drummond é comemorar a literatura. Itabira é uma dos locais mais mencionados na obra literária por causa dele. E o turismo literário é outra vertente a ser desenvolvida.
As eleições são no domingo. O senhor apoia a continuidade do governo estadual e federal ou apoia a mudança de governantes?
Não sou a favor da reeleição dos cargos para executivos. A alternância do poder é importante porque fortalece a democracia, renova pontos de vista importantes. Eu sou do PSB, o meu partido tem a orientação de apoiar as mudanças, seja no nível estadual ou federal.